2 - TURÍBIO VAZ DE ALMEIDA E A MARCHA DO TEMPO

 

                  Há dias, escrevendo sobre o Sr. Turíbio Vaz de Almeida, ( hoje com 93 anos de idade ), dissemos que ele conheceu o velho Botucatu, no fim do Império e nos primórdios da República. Conheceu os homens bons que fizeram a grandeza da centenária Ibiticatu. Viu também muita coisa feia e atos deploráveis, que ele analisa com censo crítico elevado e justiça.

                  Turíbio tem lembrança do Capitão Tito Correa de Mello, que era Deputado à Assembléia Provincial de São Paulo, isto no fim do regime imperial. Em 15 de Novembro de 1889, gritou vivas à República. Presenciou cenas interessantes, quando muito monarquista virou republicano, acuando o Delegado de Polícia Pedro Egidio do Amaral, que se manteve fiel às suas convicções políticas e não virou casaca.

                 Turíbio conta, que na época trabalhava na “A GAZETA”, jornal local que teve pouca duração. O nosso informante frisa, com humorismo, que não era jornalista, mas sim jornaleiro, encarregado da limpeza das oficinas e entrega do furibundo hebdomadário, como se dizia então. Ele se lembra muito bem, do professor Azurára, na tarde de 15 de Novembro. O homem tinha ido à estação da Sorocabana, saber notícias dos fatos que ocorriam na Capital Federal. Soube da Proclamação da República, que telegramas difundiam pelo Brasil afora. O Prof. Azurára, de pé, em cima de uma carroça, de chapéu na mão, apoplético, dava vivas a República. E o povo, nas ruas, correspondia entusiasticamente. E, imediatamente, todas as autoridades constituídas foram demitidas. Formaram uma junta governativa, onde figuravam os cidadãos Raphael Augusto de Moura Campos, Amando de Barros, Bernardo Augusto  Rodrigues da Silva, Dr. Costa Leite e outros homens de projeção.

                   Em 1901, dirigido pelo médico Dr. Miguel Zacharias de Alvarenga, surgiu o “Correio de Botucatu”, decano da imprensa botucatuense e da Zona Sorocabana. Outros órgãos da imprensa surgiram depois. Entre eles, “O Botucatuense”, dirigido por Avelino Carneiro. Nas trincas e futricas locais, o “Correio de Botucatu” defendia a facção AMANDISTA, o “O Botucatuense” era grupo CARDOSISTA. Ambos eram alas do Partido Republicano Paulista, o famoso PRP.

                  Naqueles velhos tempos, os monarquistas eram apelidados “Cascudos” e os republicanos eram os “Farrapos”. Mais tarde, os Cardosistas eram os “Carrapatos” e os Amandistas eram os “Gafanhotos”.

                   Turíbio, naqueles tempos de lutas bravas, não era eleitor. Vivia muito bem com os elementos de todos os grupos políticos.  Dizia ele, muito moço, que “em festa de uru, nambu não pia”.

                  Na década de 1890 – 1900 e na passagem do século, que foi assinalada com grandes festas, Botucatu era mal afamada. Tida e havida, como terra de valentões, bandoleiros, bagunceiros, ladrões de cavalo,etc... Entre os criminosos, figuravam o Dioguinho e Chico Tanoeiro. Mal afamados ladrões de cavalos, eram o Chico Estevam e o Timóteo. Como arruaceiros se destacavam o Prudêncio  Paes e o Lourenço Paranistas. Estes, na opinião de Turíbio, eram apenas moços divertidos, de coragem, que, nas festas populares ( circos, touradas, carreiras de cavalos ) gostavam de desacatar a polícia, mas não matavam ninguém ...

               Quando o Dr. Vital Brazil, residiu em Botucatu, iniciando os trabalhos que culminaram com a descoberta do soro antiofídico, Turíbio conta que houve um reboliço tremendo entre as comadres locais. A mulherada se reunia no açougue de João Cláudio Pereira. E ali comentava as artes daquele médico, que no porão da casa, guardava cobras, coelhos, cachorros, sapos, etc... Devia ser coisa do tinhoso por que  o homem não ia à igreja ( Vital Brazil era protestante ). Por falar em Vital Brazil, nas comemorações do centenário de seu nascimento, Turíbio Vaz de Almeida, recebeu a medalha  comemorativa conferida pelo Governo de São Paulo. E o nosso amigo, em sessão solene na Câmara Municipal de Botucatu, pronunciou, a respeito do cientista patrício, uma pequena oração, objetiva, simples e bonita, que calou fundo nos presentes.

                 Falar da vida de Turíbio,  seria um nunca mais acabar. Por isso, agora vai um ponto final. Mas, em outras oportunidades, ainda faremos menção aos fatos de que tem conhecimentos. E da sua valiosa opinião, sobre a vida local, também lançaremos mão. Para regalo dos possíveis leitores destas despretensiosas crônicas.

( Correio de Botucatu – 31/05/1970

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