11 - O   RABINO    SAMUEL   LEVY

 

               Corria o ano de 1870. Na Europa, a guerra franco-alemã atingia o seu clímax. A França, derrotada, perdia as províncias da Alsácia e Lorena, que foram incorporadas ao território alemão.

               Um judeu-francês, o alsaciano Samuel Levy, muito moço, não se conformou com aquela situação. E resolveu imigrar. Veio para o Brasil. E aqui começou a viver como Ourives e Dentista Protético. E mais tarde, seria rabino. Para prestar assistência religiosa à pequena comunidade judaica dispersa pelo interior. Nas suas andanças o moço judeu veio parar em Sorocaba, onde conheceu uma bonita moça ( parecia uma Arlesiana ), de quem logo gostou. E com ela quis se casar. Maria Magdalena Grohmann, filha de alemães ( e era mesmo registrada como alemã ) de 15 anos de idade, católica, acabou se casando com o jovem francês.

             Mas o casamento deu tanta confusão ( hoje diríamos deu um bode ), que acabou sendo realizado no Consulado Alemão, mediante um registro especial. Naquele tempo, não havia Registro Civil, só instituído depois de 15 de Novembro de 1889. Casamento na igreja ( que era o que havia ), era impossível, dada a diferença de religião. Ajuntar, simplesmente, era imoral. E a solução encontrada, foi a acima mencionada.

               Nas suas andanças, o casal esteve em várias cidades. Mas acabou se fixando em Botucatu, onde viveu largos anos, criando a  filharada : Samuel Junior ( Nhonhô ), casado com Amélia Grohmann; Elisa,casada com Paulo Fernandes; Alberto, casado com Cilóca Braz da Cunha; Julieta ( Zizinha ),casada com Henrique Pavão; Amélia,casada com Nicolau Kuntz; Iracema ( Mira ), casada com João Silva; e Jayme Catão, que sempre residiu em Sorocaba. Todos são falecidos.

             Eu conheci o velho Samuel Levy, no fim da vida. Residia com seu genro Nicolau Kuntz, comerciante, que foi Prefeito Municipal de Botucatu. Naqueles bons tempos, não havia esses preconceitos e essa discriminação racial, que tanto castigam os judeus. Nicolau Kuntz era filho de alemães. Dona Magdalena, era registrada como alemã. E o velho rabino, amigo do Monsenhor Ferrari, vigário da Paróquia, era muito estimado pela população, de todos os credos.

             Samuel Levy faleceu em 1915. Está sepultado em Botucatu. Prevendo sua morte, espírito liberal que era, reuniu os filhos, e recomendou: “Sigam a religião da mulher, que era católica; quero ser enterrado com os objetos do culto israelita; e queimem os livros sagrados”.

            Dos filhos do velho judeu ( que morreu pobre ), tenho lembranças de dona Mira e de Nhonhô Levy.Este,Dentista Prático, deixou os seguintes filhos: Prof. Mário; Professoras Odete, Julieta e Lygia; João, Romeu, Oswaldo e Vinício. João Levy, ferroviário e Romeu ( o Bizuca ),decano dos gráficos botucatuenses, residem em nossa cidade.

              Dona Mira ( Iracema Levy Silva ), casou-se com João Silva, moço catarinense, que chegara a Botucatu como funcionário dos Correios. Depois, ele foi funcionário da Prefeitura Municipal, onde eu o conheci como lançador,  colega de meu pai Sebastião Pinto Conceição. João Silva faleceu em 1913, exercendo o cargo de professor de Trabalhos Manuais ( secção masculina ) da Escola Normal de Botucatu. Sua Esposa, dona Mira, lutou muito para criar e encaminhar os filhos, formando-os todos. Eram eles: João, Iracema ( falecida, foi casada com o Professor José do Amaral Wagner); Dinorah ( casada com Américo Alvarez Rodrigues ); Maria ( casada com Nicola Avallone ); e Diva, já falecida, que foi casada com Renato de Barros.

              Eu conheci bem dona Mira. Era funcionária da Escola Normal, quando do meu tempo de Diretor e Professor daquele educandário botucatuense. Depois, fui seu Médico durante algum tempo. Por isso, bem pude avaliar suas qualidades de funcionária, dona de casa e mãe.

             O Professor José do Amaral Wagner,  foi uma das grandes expressões do Magistério Normal de São Paulo. Foi meu colega de turma, em 1919, na então Escola Normal de Botucatu. Excelente professor. Grande orador. Cidadão de escol, prematuramente falecido.

             Um neto do velho rabino, o Sr. Alberto Levy Junior, o “Iôca”, reside em Botucatu, onde é ferroviário.

( Correio de Botucatu, 02/07/1970)

 


 
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