12 – MASTROPIETRO TORTORELLA

 

              No fim do século passado, era em massa a imigração italiana para o Brasil. Calcula-se que mais de meio milhão de peninsulares aqui se estabeleceram. Como cada casal (na opinião divertida de Monteiro Lobato ), desovava um filho e meio por ano, explica-se a razão desses vinte milhões de ORIUNDI que são nossos patrícios.

              Pelo navio RÉ VITTORIO, com passaporte emitido em 06 de setembro de 1895, desembarcava em Santos, no mesmo ano, o jovem CALÇOLÁIO Tortorella Pietro. E logo veio para Botucatu.

              O moço italiano ( 21 anos de idade ), solteiro, natural de Rossano, logo começou a trabalhar. Verdadeiro mestre ( Mastropietro ) na sua profissão, era mesmo um artista. Tinham fama as botinas de pelica que fabricava. Macias. Bonitas. Como elas, a gente tinha a impressão de estar de chinelos, tão leves eram. Grangeou freguesia. Vinha gente de São Paulo, para adquirí-las. Carlos Mirabelli, o discutido médium, por exemplo, era um dos fregueses habituais.

                Em 08 de outubro de 1898, o jovem Tortorella se casou com Joaninha Tillio, irmã de Antonio Tillio, que por longos anos foi Gerente da Folha de Botucatu, o jornal do mestre Pedro Chiaradia. Desse casamento nasceram os seguintes filhos: Francisco ( Iôca ), casado com Júlia Franco; José ( já falecido ), que foi casado com Haidée Varolli; Orestes,casado com a Profa. Iolanda Bolognini; Luiz, casado com Aparecida Giraldi; Alfredo, casado com Lúcia de Almeida; Profa. Alayde, falecida, que foi casada com o Dr. Waldemar Faria Motta, advogado em Prudente, já falecido; Profa. Adelaide, casada com Ubaldo Gomes Correia; Profa. Antonieta, casada com José Josino de Andrade; Helena Tortorella,viúva do falecido jornalista Darcílio Pinheiro Machado; Assumpta,casada com Joaquim Reis; Elisa,já falecida; e Maria Wilma Tortorella. Netos e bisnetos, em quantidade, enriqueceram essa numerosa família; cujos chefes celebraram bodas de diamante ( 60 anos de casado ). Pedro  Tortorella faleceu em 29/04/1965 e dona Joaninha Tillio seguiu-o poucos anos depois. Pedro Tortorella contava 91 anos de idade, sendo dos mais velhos moradores da cidade.

                Figura popular, muito estimado, era o velho italiano. No inicio de sua vida, morou no bairro da estação ( Vila dos Lavradores ). Depois, veio para a rua Riachuelo. Ali por perto da Casa Popolo. Foi vizinho do cientista Vital Brazil Mineiro da Campanha. E, por isso, acompanhou de perto, as experiências do descobridor do soro antiofídico.

               Progredindo,  Pedro Tortorella se estabeleceu, em casa própria, ali onde está o Banco Comercial, um prédio que foi demolido. Após a venda da casa, Pedro Tortorella mudou-se para a rua do Curuzu, onde ficou até o término de seus dias.

             Como italiano que era, torcia por Garibaldi, Cavour, Mazzini e outros campeões da unificação italiana. Consequentemente, era contra o poder temporal do Papa. Além disso, era maçon, pertencendo à Loja “Guia Regeneradora”, constituída então, por maioria de italianos. Nas festas comemorativas da tomada da PORTA PIA, reproduzida ao vivo na antiga praça da Liberdade, hoje “Coronel Moura”, a colônia italiana se esbaldava. E o vinho era consumido generosamente, numa festança que contagiava até os nacionais.

             Já na velhice, dando azo ao temperamento boêmio, Pedro Tortorella integrava um grupo, de interessante formação heterogênea: Joaquim Dias, português, jardineiro; Manoel Guimarães, português, construtor; Gregorio Fazzio, alfaiate; Mastrochico, sapateiro; e o Osnan Garavello, serralheiro, muito moço em relação ao time, e o único vivo. Eram célebres os bródios promovidos pelo sexteto.

              Tenho lembrança de um gozado episódio, onde aparece a interessante figura do Quico, patrício e compadre de Mastropietro.

            A coisa foi assim: Comemorando a formatura de duas sobrinhas, pela Escola Normal de Botucatu, em 1931, Pedro Tortorella ofereceu um suculento almoço aos professores da Escola. A eles somente. Às tantas, já na hora dos discursos, apareceu o Mastrochico, que se julgou desprestigiado, por não ter sido convidado. Não queria aceitar as explicações do compadre. Mas acabou cedendo, após soltar um sonoro palavrão, que arrancou uma gargalhada geral: - “P.Q.P. de roda! ( e fez um gesto circular. . . ) E sentou-se, almoçando com a turma.

( Correio de Botucatu – 05/07/1970)

 


 
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