18 -  THOMAZ FAZZIO, O CARTOLINHA

 

            Uma figura muito conhecida no velho Botucatu,  era o alfaiate Thomaz Fazzio, conhecido como “O Cartolinha”. Eu o conheci, por volta de 1910. Era um velhinho espigado. Durinho. Com uma barbichapontiaguda. Sempre de preto e bem abotoado. E com um indefectível chapéu de coco, o que era novidade na terra cabocla. Essa a razão do apelido “O Cartolinha”

           Thomaz Fazzio era italiano, de Ferolito (Catanzaro). Nasceu em 29 de maio de 1851. Foram seus pais Gregório Fazzio e dona Thereza Fazzio. Em outubro de 1871, casou-se com dona Maria Guzzi Fazzio, na cidade de Maiola. Alguns anos depois, e já com filhos, mudou-se para o Brasil.

           Veio para o estado de São Paulo. Inicialmente, residiu em Itapira. Depois, buscando um centro maior, mudou-se para Sorocaba. Montou uma alfaiataria, onde se revelou um mestre da tesoura. Mas o destino, marcara outro rumo para o homem. Uma epidemia de febre amarela varria Sorocaba. Morria gente a valer. E muita gente, procurando salvar-se, mudou de ares. Thomaz Fazzio rumou para Botucatu. A cidade serrana parecia imune à mortífera epidemia. E assim, em fins de 1899, já estava a família Fazzio instalada na cidade dos bons ares.

           Na rua Curuzu, ali nas alturas da casa da família Dal Farra, o novo botucatuense se estabeleceu. Montou uma alfaiataria, onde os auxiliares eram os filhos, alguns nascidos em Botucatu. Durante vinte e dois anos, o Cartolinha residiu aqui na terra. Criou os filhos e encaminhou-os na vida. Em julho de 1921, aos setenta anos de idade, encerrou sua vida terrena. Sua viúva, dona Maria Guzzi, nonagenária, faleceu em 1941. Deixaram os seguintes filhos: Savério, Gregório, José, falecidos; Angelina, Stella, Thomaz e Celestino Euzébio Fazzio, vivos, residentes na Capital do Estado.

          Gregório Fazzio, casado com dona Pedrina Amaral Fazzio, músico e alfaiate, deixou numerosa descendência. Dos seus filhos, apenas o Alfredo seguiu a tradição da família, tornando-se bom costureiro, criando métodos especiais para costura feminina. Dos filhos de Alfredo, o Vicente continua divulgando os métodos do pai. O Gregório Fazzio Neto, bancário, é jornalista, diretor de “O Mirim”; a irmã Lalí, é professora normalista primária.

          Roberto Fazzio, neto do velho Thomaz ( filho do Gregório ), foi Diretor do Instituto de Previdência e Diretor Administrativo do Hospital das Clinicas de São Paulo, faleceu dia 27 do corrente mês, na capital. Deixou viúva dona Maria César, bisneta de José Rodrigues César.

          José Fazzio, faleceu relativamente moço. Seus filhos, formaram-se pela Escola Normal de Botucatu, sendo que o Guilmar não exerce o magistério. É alto funcionário do Touring Club de São Paulo. Seu genro, o professor Luiz Rodrigues Ramos, é funcionário do I.B.G.E. local.

          Celestino Euzébio Fazzio – diplomou-se pela Escola Normal de Botucatu, numa das primeiras turmas. Pouco tempo dedicou ao magistério. Preferiu outras atividades na Capital, onde venceu na vida. Jornalista ( dirigiu a “Cidade de Botucatu” ), bom poeta e orador, Celestino foi figura de destaque na sua turma de professores.

          Do Thomaz, alfaiate, eu me lembro como esportista. Foi meu companheiro na A.A.Botucatuense.

         Dona Stella Fazzio, seguindo a tradição familiar, casou-se com Octacílio Teixeira Pinto, também alfaiate. Octacílio foi esportista de nomeada. Grande futebolista. Defendeu as cores da Associação A.Botucatuense. E depois, transferindo-se para o Rio de Janeiro, pertenceu ao Botafogo ou Fluminense, não me recordo bem. Uma neta do velho Cartolinha, a professora Josna Fazzio, durante anos dirigiu uma acreditada escola de corte e costura.

        Contou-me José Nicoletti ( cunhado de José Fazzio ), que o velho Thomaz Fazzio, quando na Itália, foi costureiro da Rainha. E, em Botucatu, com o Sr. Antonio de Zagottis, revolucionou a costura masculina, aprimorando-a, a ponto de fazerem roupas de cinta ( alta costura ). O velho Cartolinha ( não se zangava com o apelido ), gostava de viajar. Percorreu vários estados do Brasil, conhecendo suas principais cidades.

        Era um italiano da velha guarda. E um bom brasileiro de coração. O mesmo se poderia dizer do Sr. Antonio de Zagottis. Este, casado na tradicional família Alegretti, de São Paulo ( o Coronel Médico Dr. Riccioti, foi Chefe do Serviço de Saúde, da Força Pública de São Paulo e Derville foi Deputado Estadual ), deixou vários filhos,todos formados. Tenho lembrança do Dr. Alfredo, Médico e Delegado de Saúde; professores Carlos e Paulo, notáveis desportistas; Dr. Alberto, Secretário de Estado, Engenheiro; Orlando, Contador; e as Professoras Helena, Virgínia e Carmen de Zagottis. Com a mudança da família para a Capital, nenhum descendente dos Zagottis aqui reside.

( Correio de Botucatu – 30/07/1970 )

 


 
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