23 - VELHAS RUAS E NOMES NOVOS

 

                 As principais ruas de Botucatu, na parte que o povo chama de miolão, tiveram seus nomes relacionados com fatos e vultos do passado – propaganda da República, abolição da escravidão, guerra do Paraguai.  Mas, com o tempo, foram trocando os nomes de algumas. Vejam a sequência.

                RUA  DO SAPO – Beirava o ribeirão Lavapés . Depois de 1890, passou a ser rua Rangel Pestana. Homenagem a um jornalista da “ A Província de São Paulo”, hoje “ O Estado de São Paulo”. Propagandista da República e campeão da luta anti-escravagista, pertencia a uma conhecida família de jornalistas.

                RUA CURUZU – É a mais antiga rua de Botucatu. Ganhou esse nome em 1886. Comemorativo da vitória das armas brasileiras na guerra do Paraguai, na tomada do forte de Curuzu. Certa vez, por ocasião da morte do notável Clóvis Bevilacqua, tentaram mudar o velho nome para o do ilustre jurista. O povo não gostou. Houve protestos. Ameaça de arrancamento de placas. E afinal, camaristas e prefeito voltaram atrás. E a velha rua continuou. Para remoçar. Para se modernizar a pouco e pouco.

                RUA AMANDO DE BARROS – No principio era a rua do Comércio. Veio a guerra do Paraguai. E com a grande batalha naval de 11 de junho de 1865, a rua passou a denominar-se “Riachuelo”. O nome pegou. E perdurou até a morte do coronel Amando de Barros, chefe político, Deputado, quando a mais importante rua local passou a se chamar “Amando de Barros”.

                 RUA CESÁRIO ALVIM – Nome de ilustre desconhecido. Que nada representa para Botucatu. Creio que nem para a maioria dos paulistas. Era o cidadão em causa, jornalista no Rio de Janeiro, no tempo da Abolição e da Proclamação da Republica. Parece que fez parte do Ministério de Deodoro.

                 RUA DR. CARDOSO DE ALMEIDA – É a minha rua. Chamada antigamente de rua Áurea. Lembrança do  13  de maio de 1888. Quando a Princesa Isabel, na regência do trono, assinou a Lei Áurea, abolindo a escravatura no Brasil. Quando o Dr. José Cardoso de Almeida, ilustre político botucatuense, figura de projeção nacional, faleceu em 1931, a rua passou a ter seu nome. Um humorista da terra, já falecido, muito irreverente, contava uma história diferente. Dizia ele, que por volta de 1880 e poucos, a parte alta da cidade, em capoeira e cambuizal, não tinha ruas ( aliás eram caminhos no campo ruim ). Havia a chamada rua da Áurea,uma mulata de fechar o comércio na segunda-feira e que era amigada com um régulo local . . . Isso devia ser piada, mas o registro vale como amostra de oposição.

               RUA GENERAL TELLES – Homenagem a um glorioso soldado. Defensor da legalidade na revolta de 1893, que visava derrubar o presidente Floriano Peixoto. Como Tenente-Coronel, Carlos Maria da Silva Telles venceu os caudilhos gaúchos, em Bagé, quando a cidade estava toda sitiada pelas forças de Canabarro, Gumercindo Saraiva e outros. Teve melhor sorte que seu colega Gomes Carneiro, que morreu no cêrco da Lapa, Paraná. Na guerra de Canudos ( governo de Prudente de Morais ), o já Coronel Carlos Maria da Silva Telles, foi ferido em combate. Foi promovido a General. Mas Silva Telles não durou muito. Morreu em conseqüência dos ferimentos recebidos em campanha.

               RUAS PRUDENTE DE MORAIS  E CAMPOS SALLES – Homenagem a dois notáveis paulistas, que foram presidentes da República de 1894 a 1898 e 1898 a 1902, respectivamente.

                 RUA MARECHAL DEODORO – A rua que do ribeirão Lavapés sobe ao Fórum, é a rua Marechal Deodoro. Homenagem ao Marechal Manoel Deodoro da Fonseca, que proclamou a República no Brasil. Esta rua corta o Bosque. É a praça que no Velho Botucatu se chamava largo de Santa Cruz. Um dia, no principio do século, um presidente de São Paulo, visitou a nossa cidade. E záz! O cordão dos puxa-sacos conseguiu batizar o velho largo como praça Jorge Tibiriçá. O nome não pegou. Um pouco antes de 1930, a política situacionista local, para agradar um chefe todo poderoso na Sorocabana, que nada tinha de comum com Botucatu, cassou o nome de Tibiriçá, substituindo-o por praça  Ataliba Leonel. Pouco durou a troca de nomes. Com a revolução de 1930, Gastão Pupo e seus companheiros de luta, arrancaram, sem nenhum protesto, a placa perrepista. E botaram o nome de João Pessoa, o malogrado governador da Paraíba, barbaramente assassinado em Recife, pelos sicários a serviço da politicagem nordestina. Nem assim, parou a mudança de nomes do infortunado Bosque. Já foi praça Del Prete ( homenagem a um grande aviador italiano ), praça Olavo Bilac ( em momento de grande exaltação cívica e arrancamento do busto do aviador ) e depois praça Emilio Peduti. A estátua do Pedutão, está lá no meio do Bosque, para impedir inoportuna cassação. . .

 

(  Correio de Botucatu  - 16/08/1970 )


 
<< voltar