34 - DO LOPÃO AO MOSCOGLIATO

 

            Barbeiros do tempo de Dante? Quais foram? Na opinião dos historiadores botucatuenses, o português Lopes ( Lopão ), no fim do século passado, já tinha barbearia na rua Curuzu. Onde por muitos anos residiu a família Moscogliato. O homem da tesoura e da navalha teve um fim trágico. Morreu atolado no brejo do ribeirão Lavapés, nas alturas do Angelo Longo. Suicídio? Acidente? Parece que o velho português estava com as faculdades mentais alteradas.

              O barbeiro Lopes, foi sogro do alfaiate Vicente Leão Sobrinho. Vicente Leão conseguiu formar todos os filhos: Mário, engenheiro, Renato, Veterinário, Milton, Médico, e Maria Aparecida, Professora. Todos eles se diplomaram professores normalistas, pela Escola Normal de Botucatu. Depois é que alçaram vôo para as universidades. O Dr. Mário Lopes Leão, que em 1969 foi considerado o “Engenheiro do Ano”, é diretor da COSIPA, grande siderurgia paulista.

             Com a morte do Lopes, surgiu um Fígaro italiano, o Malafarino. Ficou com o salão Lopes e com a sua viúva, pois com ela se casou. Malafarino acabou vendendo o salão para José Musetti, que continuou no mesmo prédio. Mas não durou muito  no ponto.

             Em 1905, o velho José Moscogliato, para seu filho Vicentinho ( que contava 13 anos de idade ) comprou o salão de Musetti. Por duzentos e cinquenta mil réis ( duzentos e cinquenta cruzeiros velhos ). E ali no  896 da rua Curuzu, durante 42 anos, Vicente Moscogliato ganhou o feijão nosso de cada dia e os etc... Lá o jovem Fígaro casou-se com dona Ida Varoli. Lá nasceram Mercedes, Elda, Maria Ana, Antonio Maria e Fausto, filhos que se projetaram em vários setores da vida botucatuense, como valores positivos que são.

            Vicente Moscogliato, além de barbeiro era músico. E bom artista. Exímio flautista. Criou uma escola de música, de onde saíram os flautistas Dr. Alfredo de Zagottis, Abilinho de Almeida, Hermínio de Abreu, Antonio Tavares, Camillo Pedutti, Luiz Baptistão e outros. Não só flauta o homem ensinava. Era um conservatório mirim, onde se lecionava, e bem, violino, harmônica, violoncelo e outros instrumentos. Vicente se aposentou. Deixou o bairro. E hoje aos 78 anos de idade, é um cidadão largamente estimado, em plena atividade artística, um grande e autêntico valor botucatuense.

            No principio do século Matheus Avalone, italiano, mantinha um modesto salão, onde, nas horas vagas, consertava guarda-chuvas. Era barbeiro das pessoas humildes e da soldadesca que havia na cidade. Naqueles tempos, Botucatu sediava uma companhia da Força Pública. O italiano Raymundo Odorico era o Corneteiro da tropa. Daí é que lhe veio o apelido de Corneta, pelo qual atendia e chegava a assinar certos papéis. Ao dar baixa da Força Pública,  o Corneta casou-se com uma viúva rica. E acabou o resto da vida, sem fazer força ganhando uns cobres como reclamista.

            Matheus Avallone, deixou grande descendência. Um de seus filhos, o Nicola, mudou-se para a jovem Bauru, onde montou um salão de barbeiro na rua Batista de Carvalho, a mais importante da cidade. Um neto de Matheus Avallone, o Nicolinha, foi o ex-Deputado Nicola Avallone Junior, cassado pela Revolução.

            Notável elemento da época, foi o barbeiro Domingos Dorsa. Era um moço italiano, muito simpático. Bonito mesmo. Bem falante. Na rua principal, rua Riachuelo, montou um alinhado salão. Casa de primeira classe. Impôs-se de tal maneira, que Amando de Barros, o chefe local, fê-lo Vereador, na legislatura de 1908 a 1910. Domingos Dorsa, logo após transferiu-se para São Paulo, onde terminou seus dias. Deixou boa lembrança de sua insinuante pessoa. Diziam ( palavra que não afirma nem nega ), diziam as más línguas, que o homem deixou aqui alguns mocetões e bonitas moças, que tinham sangue tipo dorsa. . .

             Outros barbeiros deste século, como José Nigro, Carlos Corvino, José Nicoletti, Benedito Soares e possivelmente outros, ainda serão focalizados nestas evocações. Mas antes disso, preciso dizer mais alguma coisa sobre Vicente Moscogliato, do tempo em que ele, Augusto Panizza (violão) meu tio Tóte Paes e outros músicos, eram chorões notáveis. Que faziam moçoilas suspirarem nas serenatas em noites enluaradas. Moscogliato era da Orquestra do Clube 24 de Maio, onde eram flautistas Pedro Avelino, Vicentinho Rocha e o menino Zagottis, meu pai Sebastião Pinto Conceição; violino era Alexandre Roubaud; piano Tonico Cunha; contrabaixo era Alcides Torres, e pistão o inigualável Lazinho Camargo. Havia também, a famosa orquestra do cinema Casino. Os azes Barbuy ( violino ), Amilcar Montebugnoli ( saxofone ), Paulino Carnitti ( clarinete ), Maestro André Rocha ( rabecão ), Bepe Dal Farra ( trombone ) Moscogliato. Todos sob o mando do Luiz Cardoso, o frade pianista. E o trio de flautas _ Mascarenhas, Amorim e Moscogliato, - acompanhado ao piano pelo Prof. Aécio?  Simplesmente formidável!

( Correio de Botucatu – 11/10/1970 )


 
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