37 - DOUTOR  JONES E OUTROS AMERICANOS

 

          Como consequência da Guerra da Secessão, alguns americanos do Norte imigraram para Botucatu. Eram eles os Meriwether, Muller, Jones, Norris, Burton e outros.

           O Dr. Leonardo Yancey Jones, o primeiro dentista formado que trabalhou em Botucatu, nasceu em Alabama (USA) em 1872. Em 1896 já estava na terra dos bons ares. Em 26 de novembro desse ano, casou-se com dona Júlia Norris, uma americana de Santa Bárbara do Oeste, onde nascera em 1878.

          Nos primeiros anos de Brasil, Dr. Jones trabalhava com o auxilio de um intérprete, o que causava grande espanto à gente simples da terra, criando situações engraçadas.

           O casal Jones era muito querido em Botucatu. Dona Júlia e Leonardo estavam sempre dispostos a colaborar em todos os setores da vida incipiente da cidadezinha. Mas o Dr.Jones teve um  outro merecimento. Foi ele quem introduziu o futebol em Botucatu. Fundou o Esporte Clube Botucatuense (SCB), cujo campo era onde se situa a nossa imponente Catedral. O primeiro encontro intermunicipal de futebol,  deu-se no dia 12 de outubro de 1905, quando o quadro local obteve retumbante vitória ao derrotar o clube de Avaré.

          O casal Jones teve quatro filhos botucatuenses: Leonardo, engenheiro e fazendeiro, residente em Lucélia; Martha, residente em Barklei, na Califórnia; Julieta e Dr. Cícero, residente em São Paulo. O Dr. Cícero foi um pioneiro do rádio no Brasil. O Dr. Jones faleceu em São Paulo, em 11 de novembro de 1928, com 56 anos apenas. Sua viúva dona Júlia Norris Jones, faleceu na Capital, aos 27 de setembro de 1968, contando noventa anos de idade.

          Outra família contemporânea dos Meriwether, era a dos Muller, agricultores, que foi se localizar no atual bairro dos Pimenta ( p’ras bandas do Faxinal ). Na beira do Rio Pardo, foi montada uma serraria, motivo pelo qual o lugar ainda é chamado Serra D’água. Esses confederados eram ricos. Trouxeram tudo que puderam: dinheiro, alguns escravos, máquinas, animais, etc. Causaram sucesso os perus negros que criavam soltos no campo.

          Dois rapazes Muller – Frank e Tom – acabaram se casando com brasileiras. Afinal, todos se mudaram para a Capital, onde perderam o contato com Botucatu.

           Um oficial do Exército Confederado, o Tenente Henry O. Burton,  viveu longos anos em Botucatu. Devia ser rico. Morava no Hotel Paulista, o melhor da terra e que era propriedade do suíço Carlos Leopoldo Hirsch. Burton, solteirão, gostava de caçadas. Tinha bons animais e boas armas. Não trabalhava. E era grande bebedor de cerveja. Tinha um apelido engraçado, com o qual se tornou conhecido na cidade: Marcumbóde. O nosso amigo Turíbio Vaz de Almeida, que conheceu bem esse cidadão norte americano, não sabe explicar a origem e o significado dessa alcunha Marcumbóde. O Tenente Burton faleceu em Botucatu. No seu túmulo, muito simples ( apenas uma grade de ferro, cercando o chão desguarnecido), há uma placa de ferro com a seguinte inscrição : “ In memory of Henry O. Burton. Born – 16 th october 1845 at Guthbert, Georgia, U.S.A. – Died 28 th May 1899”. Nada mais. Nem uma palavra de amizade e saudade ao pobre Marcumbóde, morto no desterro e solidão.

          Os americanos do norte passaram por Botucatu sem aqui deixar descendentes. O mesmo não se verificou em Santa Bárbara e em Vila Americana, principalmente nesta última cidade, onde grande foi sua projeção e influencia, a tal ponto que a cidade conserva o nome de AMERICANA. Não há muito tempo, focalizando a presença de imigrados norte americanos no Brasil, um jornal da Capital, disse que os mesmos residiam em Bauru, onde muitos morreram e em cujo cemitério foram sepultados. Deve ser engano de informantes. No fim do século passado Bauru ainda nem existia. No dia 2 de agosto, Bauru comemorou o seu 74º aniversário de fundação. Os americanos residiram foi em Botucatu mesmo, onde ainda residem testemunhas oculares do fato.

( Correio de Botucatu – 02/11/1970 )


 
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