38 - AMANDO DE BARROS

 

                  A principal rua de Botucatu, chama-se Amando de Barros. Numa praça pública da cidade há um busto do referido cidadão. Busto esse colocado por ocasião do primeiro Centenário de Botucatu. Ao lado da Catedral, situa-se a Casa das Meninas “Amando de Barros”. Na galeria de benfeitores da Misericórdia Botucatuense e no salão nobre do Instituto de educação “Dr. Cardoso de Almeida”, figuram retratos do benquisto homem público. E o Pavilhão “Amando de Barros”, na Misericórdia, serve de clausura e capela das Irmãs da Consolata, missionárias que trabalham naquele nosocômio. Mas quem era esse cidadão, tão lembrado assim?

                  O Coronel Amando de Barros ( Coronel da Guarda Nacional ), nasceu em Piracicaba, aos 14 de setembro de 1860. Foram seus pais Joaquim do Amaral Barros e da.Liduina Ribeiro. Fez eu curso primário ( única instrução que teve ), na antiga Vila Nova da Constituição. Aos 16 anos de idade, veio para Botucatu, sendo que em 1876, já era balconista da casa comercial de Chico Picão, que depois seria o Barão do Amaral.

                   Com  o tempo, passou-se para a casa comercial de Antonio Ferreira da Silva Veiga Russo. Aos poucos foi-se impondo ao patrão, que acabou admitindo-o como sócio. Estava constituída a firma Russo & Barros. Em 1884 estabeleceu-se por conta própria. Surgiu a CASA AMANDO, que até agora existe, sob a direção dos sobrinhos Prof. Joaquim Amaral Amando de Barros e Antoninho Amando. Ao deixar o comércio, para se dedicar à política, o Cel. Amando de Barros, admitiu como seus sócios os irmãos Pedro e Joaquim, já falecidos, que extinguiram a loja de fazendas, conservando a secção de ferragens.Possuidor de grande fortuna, celibatário, o homem tornou-se um filantropo, amparo da pobreza e protetor de entidades assistenciais.

                   Ganhando idade, ingressou na política. Integrou o nascente Partido Republicano Paulista. Foi Vereador em várias legislaturas. Em 1890, após a Proclamação da Republica,foram extintas as Câmaras Municipais. E em seu lugar, criados os Conselhos de Intendentes, para administrar os municípios. Amando de Barros foi membro do primeiro Conselho de Intendentes de Botucatu. Estava confirmada sua influência no âmbito municipal. Daí para cima, foi uma sequência natural de ascensão.

                     Em 1910, foi eleito Deputado Estadual, pelo quinto distrito eleitoral, que congregava os municípios da média sorocabana. Foi re-eleito em várias legislaturas. Só deixou o cargo de Deputado quando adoeceu gravemente – ictus hemorrágico – doença que o prendeu ao leito por longos anos. Faleceu em São Paulo, em 13 de dezembro de 1920. Foi sepultado em Botucatu.

                   Amando de Barros, na sua simplicidade, foi uma figura ímpar. Moço pobre, com instrução primária, alçou-se a elevadas posições. Seu prestigio na política paulista, chegou a tal ponto, que, triunfalmente, lançou a candidatura do Senador Rubião Junior à governança do Estado. Botucatu, na época, era a Meca dos políticos paulistas, que vinham se entrevistar com o ponderado, prestigioso e estimado político botucatuense.

                 Na sua mocidade, Amando de Barros foi um rapaz divertido. Gostava de festas. De música e de bailes. Tocava clarinete na banda musical do maestro Bonifácio Rocha. Foi amador teatral. Contava meu falecido tio João Bethlem Moreira ( Nenê Moreira ), que  Amando de Barros não era galã. Era um bom centro cômico. E sob a direção do médico Dr. Costa Leite ( ensaiador ), fazia sucesso em peças como a B. de PANDORA, O PODER DO OURO, ROSA DO ADRO e outras, da época, quando os dramalhões arrancavam lágrimas do respeitável público e distinta platéia , como nas novelas de TV.

                 Botucatu progrediu muito, sob a influência de Amando de Barros. Politicamente, era a série do famoso 5º Distrito Eleitoral. Só depois da morte do chefe botucatuense, é que Ataliba Leonel assumiu a chefia da zona. A criação da Escola Normal, em 1911 ( uma das sete escolas normais existentes no Estado ), é fruto do seu trabalho. Na criação e instalação do Bispado, fez parte da grande comissão para tal fim escolhida. E outros benefícios canalizou para Botucatu. Foi o Chefe dos “gafanhotos”, facção amandista do PRP, enquanto os Cardosistas eram chamados “carrapatos”.

                 Ao falecer, na abertura de seu testamento, mostrou mais uma vez, seu espírito generoso e coração humanitário. Legou vultosa quantia para um ORFANATO, que seriamais tarde, a Casa das Meninas “Amando de Barros”. Deixou legados para a Catedral. Casas de Caridade e Obras Pias. Detalhe interessante, foi a doação de verbas para “enxovais de dez noivas reconhecidamente pobres”. Na Misericórdia Botucatuense, para tratamento de tuberculosos, construiu o pavilhão que tem seu nome, hoje destinado a outros fins, dada amudança de terapêutica da terrível peste branca, a tísica dos velhos tempos. E deixou verbas para os pobres por ele socorrido.

                 Amando de Barros, solteiro, não deixou descendentes. Seus irmãos já são falecidos. E aqui na terra, que amou e serviu como sua, residem os sobrinhos, dos quais o Prof. Joaquim Amaral Amando de Barros,  foi Prefeito Municipal, o Dr. Amando de Barros Sobrinho, é advogado, e Antonio Amando de Barros é comerciante. Todos filhos do Capitão Pedro de Barros, que foi Vereador e tem o nome numa rua da Boa Vista. O “Jardim Dona Nicota” é uma homenagem à sua esposa dona Anna Monteiro de Barros, também falecida.

( Correio de Botucatu – 05/11/1970 )


 
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