39 - JOÃO  MORATO, O MONARQUISTA

 

             João Morato da Conceição foi figura proeminente do velho Botucatu. Seu nome aparece em todos os acontecimentos político-sociais, que no fim do Império e princípio da República, se passaram na terra dos bons ares. Principalmente como monarquista, fazia sentir seu pensamento político. Aliás, isso era natural, dada sua origem na aristocracia ou patriciado rural do segundo império.

             João Morato nasceu em Piracicaba, aos 12 de maio de 1851. Faleceu em Botucatu, aos 8 de março de 1914. Desde moço se radicou em Botucatu, onde constituiu numerosa família. De seu primeiro casamento, não deixou filhos. Em segundas núpcias, foi casado com dona Cândida Morato de Carvalho, deixando os filhos: João Morato Filho; Antonio; Ismael; Adelaide; Cândida, casada com Julio Nascimento; Maria casada com Accácio Pinheiro Machado (filho do Coronel Brazil Gomes Pinheiro Machado e Gabriella Fausta Alvares Bueno e neto do Major Matheus); Carolina ( Nhazinha ), casada com Leôncio Villas Boas, Herminia, casada com João B. Leopardi; Idalina, casada com Newton Bitencourt; Áurea, casada com Luiz Chiaradia; e Sílvia, casada com Francisco Lapena. Desse povo todo, são vivos a professora Sílvia e os genros Lapena, Bitencourt e Luiz Chiaradia.

             Estudando a árvore genealógica de João Morato Conceição, observa-se que ele descendia dos Morato do Canto, portugueses, que no Brasil  Colônia se localizaram no litoral paulista, notadamente em Iguape. Depois, pelas gerações seguintes, foram os Morato se dispersando pelo Estado de São Paulo, vindo ter a Piracicaba e Botucatu.

            Manoel Morato do Canto casou-se com Rita Bueno de Carvalho ( gente de Amador Bueno, o aclamado rei dos paulistas ).Uma filha do casal, Rita Morato de Carvalho, casou-se com o português Antonio José da Conceição. É desse casamento nasceram muitos filhos; entre eles Carolina Morato da Conceição, que veio a se casar com o seu tio Inocêncio Morato de Carvalho. Do casal Carolina – Inocêncio nasceram os filhos Adriana, Rita ( minha avó paterna ) Martinho e João Morato da Conceição. De tudo se conclui,  que João Morato da Conceição era meu tio avô.

             João Morato da Conceição foi pessoa importante. Fazendeiro forte. Chefe político. Monarquista. Do partido conservador. Vereador em várias legislaturas ( 1883 a 1888 ). Presidente da Câmara por duas vezes. Programada a República, deixou a política. E passou a exercer,  unicamente o cargo de Fiscal do Consumo, federal, cargo no qual se aposentou.

             João Thomaz de Almeida, nas suas saborosas crônicas sobre o Velho Botucatu, contava que João Morato e Amador Ribeiro ( o Amadorzinho da Farmácia ), viviam as turras na vereança local. E, às vezes, nas discussões, surgiam termos pouco parlamentares, palavrões, que deliciavam a assistência ávida de mexericos e politiquices . . .

              Dos descendentes de João Morato, residem em Botucatu alguns netos, filhos de Leoncio Villas Bôas e Luiz Chiaradia. São eles: Engenheiro Ruy Morato Chiaradia; Advogado Antonio Celso Morato Chiaradia e a professora Maria Lúcia, casada como Dr. Jairo Gabriel; o Prof. Danton Villas Bôas, Sub-Gerente do Banco do Brasil e Clauton Villas Bôas. Newton Villas Boas, reside em Bauru. Há pouco tempo, em Ourinhos, num acidente ferroviário, faleceu o professor Dalton Morato Villas Bôas, pessoa altamente considerada naquela importante cidade da Sorocabana. Notável Educador ( 35 anos de magistério ), cidadão de escol, tem o seu nome na fachada do Ginásio estadual de Vila Odila, em Ourinhos, como reconhecimento do povo ourinhense aos relevantes serviços que prestou à infância e mocidade brasileira. Dalton Morato, diplomou-se pela Escola Normal de Botucatu, em 1934.

           Martinho Morato, irmão de João Morato da Conceição, era farmacêutico. Diplomado pela famosa Escola de Ouro Preto (MG).  Fabricava o “Elixir M.Morato”, as “Pílulas de Taiuá” e Xarope “ São João da Barra”, remédios que eram “porretes” para sífilis, bouba, gafieiras, bronquites, reumatismo e outras macacoas. Isso é o que afirmava um português muito sabido, o Daniel Carlos Maria Jordão da Rocha Peixoto, concessionário da propaganda e venda desses preparados.

            Daniel Carlos ( assinava D. Carlos, para dar-se ares de nobreza ), comprou a fórmula do Elixir M. Morato. E, propagandista emérito, inundou o Brasil com cartazes sobre milagres do especifico anti-sifilítico. Ganhou dinheiro. Ficou rico. E Martinho Morato morreu pobre.

             Nos cartazes de propaganda, D. Carlos aparecia de sobrecasaca preta, botas de montaria, sem chapéu, recebendo das mãos de um índio, na clareira da mata e à beira de um riacho,  a erva maravilhosa. E a legenda do cartaz dizia: “AIMBIRÊ mostra o segredo da mata a D. Carlos”. O interessante em tudo isso, é que a mata era uma capoeirinha ali no Tanquinho e o índio, era nada mais nada menos, do que um caboclo malandro, o Inácio Bunda, fantasiado de bugre. . .

( Correio de Botucatu – 19/11/1970 )


 
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