52 - NHÔ QUIM  FRANCISCO

 

                 Joaquim Francisco de Barros, ou melhor, Nhô Quim Francisco, era um patriarca. Cidadão dos antigos. Paulista dos bons. Botucatuense de coração. Daqueles, para quem um fio de barba valia um documento.

                 Nascido em Tietê, aos 13 de setembro de 1846, residiu algum tempo em Piracicaba. Lá na “noiva da colina”, casou-se com a piracicabana Leopoldina de Almeida Rocha, da qual houve os filhos Francisco, Eva e Ezequiel, todos falecidos.

                 Enviuvando, Nhô Quim Francisco resolveu procurar zonas novas. E veio para as terras virgens da margem esquerda do rio Tietê. Em 03/11/1873 depois de quatro dias de viagem,  a cavalo e de navegação, singrando os rios Piracicaba e Tietê, com a família, chegou à fazenda do Sobrado”, de propriedade do tio Antonio Soares de Barros. Turíbio Vaz de Almeida conta que aquilo lá era um latifúndio de milhares de alqueires. Onde havia onças, lobos, jacarés e mais bichos brabos. Era um vasto sertão a desbravar. Em maio de 1878, mais ou menos, transferiu-se para Botucatu aquele que seria o chefe de grande família botucatuense.

                Aqui foi lavrador toda a vida. Trabalhou até o fim de seus longos dias. Faleceu aos 19 de abril de 1931. Com 88 anos de idade. Cercado da estima e respeito dos seus concidadãos. E venerado pela sua enorme família, que, na sua maiorparte, ainda reside na terra dos bons ares e das boas escolas.

                 Logo após ter se estabelecido em Botucatu, Joaquim Francisco de Barros, em segundas núpcias, casou-se com da. Maria Vieira Rodrigues, gente dos Vieira e Rodrigues, de Ibiúna e Campo Largo. Dona Maria que faleceu com oitenta e oito anos e meio, em 19/05/1955, foi mãe de Honorata, Aurélio, Maurícia, João, Elisa, Amélia, Emigdio, Francisca, Isabel, Paulo, Maria, Cornélia e Joaquim. Ao todo, 16 filhos, 80 netos e inúmeros bisnetos, constituíam a descendência de Nhô Quim Francisco, por ocasião de sua morte.

                   O venerando patriarca, lavrador, sempre foi um homem da gleba. Quando aqui chegou, em 1870, foi para a Capela do Divino Espírito Santo do Rio Pardo, onde comprou a fazenda Bela Vista. Essa propriedade conhecida pelo nome de “Fazenda do Banco”, em 1894 foi vendida a Cândido Bernardes Villas Bôas, o popular Candinho, pai dos Drs. João, Candido, José , Dr. Osório, Antonio Villas Bôas e outros filhos.

                 Nhô Quim veio prá cidade, onde ficou a família, para educação dos filhos. Ele foi p’ro “Montalvão”, uma fazenda às margens do Rio Pardo. Essa fazenda foi adquirida de Carlos Alberto de Araújo e ainda está na posse da família Barros. Todas essas aquisições de fazendas, o velho lutador conseguiu realizar com o auxilio de seu tio Domingos Soares de Barros, um dos maiores beneméritos de Botucatu. Construiu, também uma grande residência, ali na rua general Telles, onde está a mansão do Dr. Olivio Stersa.

                  Como “homem bom” que era, foi político. Do Partido Republicano Paulista. Amandista. Exerceu alguns cargos públicos. Foi Sub-Delegado de Polícia; Oficial do Registro Civil; Oficial da Guarda Nacional. Apesar de largamente estimado e Chefe de numerosa família, parece-me que não disputou cargos eletivos.

                  Espírito arejado, apesar das poucas letras, colaborou com o Dr. Vital Brazil na campanha contra o ofidismo. Ele e mais alguns outros fazendeiros, receberam instruções, pessoalmente, do Dr. Vital sobre a aplicação do soro antiofídico. Gostava de contar que curara muitas pessoas ofendidas por serpentes venenosas.

                Em 1908, o velho fazendeiro transportou com seus carretões, as pesadas turbinas e os transformadores para a usina Hidroelétrica do Rio Pardo, pioneira no fornecimento de luz elétrica da Zona Sorocabana. A título de cooperação, nada cobrou pelo oneroso e difícil transporte.

                Esse homem que eu tive a honra e o prazer de homenagear ( quando fui Vereador ), conseguindo que seu nome fosse dado a uma das ruas de Botucatu ( ali no Bairro Alto ), cidade a que bem serviu e amou.

                Da sua gente a numerosa estirpe dos Francisco, tratarei no próximo capítulo. Para tanto, vou-me valer dos preciosos subsídios fornecidos pela minha colega de magistério, a Professora Elisa de Barros, já aposentada.

( Correio de Botucatu, 17/02/1971 )

 


 
<< voltar