59 - ADOLFO DINUCCI, CIDADÃO AD-HONOREM

 

              Figura interessante do Velho e do Atual Botucatu, que se fez presente e atuante, até há pouco tempo, foi Adolfo Dinucci. O conhecido arquiteto e construtor,  destacou-se na Colônia Italiana já nos tempos de Botti, Sartori, Bertocchi, Varolli, Lunardi, Bacchi e outros velhos peninsulares, que boa recordação deixaram. Dinucci tornou-se figura popular. Para isso concorreu seu linguajar característico. Era um misto de português e italiano, que se misturavam pitorescamente. Entrementes, como bom italiano que era, umas bestêmias. . . Em avançada idade, conservava o espírito de moço. Amigo da boa mesa, apreciando um bom vinho, bem humorado, era um “amigão”, como dizia o Desembargador e ilustre botucatuense, o Dr. Alcides de Almeida Ferrari, que vinha frequentemente de São Paulo para visitá-lo. Trabalhador infatigável, era de um dinamismo impressionante. Ainda aos noventa anos de idade, dando largas ao seu temperamento folgazão, Dinucci tomava parte nas folias carnavalescas.          

                Dinucci era italiano, de Lucca. Filho de Camillo e Palmira Dinucci. Nasceu aos 30 demarço de 1870. Com outros irmãos, muito moço e solteiro, imigrou para o Brasil. Vindo para São Paulo, localizou-se em Botucatu, em 1890,mais ou menos. Os outros parentes, se dispersaram por outras cidades, alguns do Jaú, outros em Araraquara. Adolfo sempre residiu em Botucatu. E, por mais de sessenta anos, no prédio da rua Amando, esquina da Moraes Barros, onde até agora reside dona Luciana, sua viúva.

              Em Botucatu, logo associou-se  ao patrício Adolfo Pardini. Constituíram a firma Dinucci & Pardini, conhecida em todo o Estado de São Paulo, pelas suas dinâmicas atuações no setor da construção. Realizaram obras públicas e particulares. Construíram os maiores edifícios da cidade: Cadeia e Fórum, Grupos Escolares, Escola Normal, a Igreja de Lourdes, a Igreja Presbiteriana, os cinemas Casino, Paratodos e Vitória, rede de águas e esgotos, estação de tratamento de água, etc. Os prédios dos cines Paratodos e Vitória, pertencem à família Dinucci.

               Tamanha foi sua atuação aqui na terra, que a Câmara e Prefeitura Municipal de Botucatu,em 16 de dezembro de 1964, em sessão magna, lhe conferiram o Diploma de Cidadão Botucatuense. Justo premio e honra ao mérito, àquele que, logo mais, aos 22 de dezembro de 1967, entregaria a alma ao Criador. Tombou o lutador, aos 97 anos. Faleceu em São Paulo, após delicada intervenção cirúrgica. Foi sepultado em Botucatu.

              Além de arquiteto e construtor, Dinucci meteu-se na lavoura, pecuária e indústria. Comprou fazendas, montou serraria, entrou numa usina de açúcar, ficou pecuarista e leiteiro, sendo acionista de várias empresas. Amealhou enorme fortuna, talvez a maior da cidade, na opinião do Rafael J. Rafael, seu vizinho, que só o chamava de “Milione”. . .

             Dinucci, se não era um mão aberta, não deixava, porém, de auxiliar as instituições assistenciais. Na Misericórdia Botucatuense, para a qual fez valiosas doações, tem seu retrato na galeria de benfeitores. Amparou o Asilo da Mendicidade. Tem seu nome numa das ruas da cidade. Na Sociedade Italiana de Beneficência era sócio destacado. E nas instituições locais, quando preciso, seu auxilio não  faltava .  Bom cidadão, não foi Comendador  e nem Cav.Uff.  Mas foi, AD-HONOREM, cidadão botucatuense, titulo de que se vangloriava e orgulhava.

              Adolfo Dinucci, em primeiras núpcias, foi casado com da. Maria Spinosa, espanhola ( falecida muito moça ), da qual houve os filhos Palmira e Maria Dinucci. Dona Palmira, falecida há pouco tempo, era viúva de Francisco Venditto. Deixou dois filhos: o Dr. Adolfo Dinucci Venditto, cirurgião dentista, casado com a Professora Maria da Glória Guimarães Venditto; e a filha Maria Jacomina, Professora, casada com o Sr. Túlio Werner Soares; Dona Maria Dinucci, professora, é casada com o médico Dr. Humberto Gianella ( do Colégio Internacional de Cirurgiões ), havendo o casal numerosa descendência : os filhos Rubens, Renato, Oswaldo, Humberto, José Fernando, Cláudio, Maria Lúcia e Maria Elizabeth, e diversos netos.

               Em segundas núpcias, em 21 de maio de 1910, casou-se com da. Luciana Fernandes, espanhola, até agora residente em Botucatu. Aos 82 anos, dona Luciana, muito lúcida, conta coisas interessantes do casal Dinucci na terra botucatuense e nas suas viagens pela Europa. Da.Luciana viu a pequenina Botucatu crescer, civilizar-se e tornar-se nesta Princesa da Serra, que Trajano Pupo tão bem canta e exalta. Do seu casamento, da. Luciana houve os filhos Camilo e Yole, residentes aqui.

              O Dr. Camilo Fernandes Dinucci, Engenheiro Civil, casado com a Professora Leontina Teixeira de Carvalho, é um dos autênticos valores botucatuenses. Continuador e ampliador das atividades paternas. Está se constituindo num dos beneméritos da cidade, pelo apoio que dá às obras assistenciais e empreendimentos que visam o progresso local. Há pouco, pela Câmara Junior de Botucatu, foi justamente homenageado pela atuação em prol da sua terra natal. A professora Yole Dinucci é casada com o Industrial Jayme Fernandes Martins, havendo o casal os filhos, Jayme, universitário, e as Professoras Ana Maria e Sílvia.

               Testemunha que sou, em mais de meio século, dos fatos e coisas que ocorrem nestes rincões, deixo aqui, palavras de amizade e respeito para aquele bom italiano, que, se tornou melhor Botucatuense : - ADOLFO DINUCCI!

( Correio de Botucatu – 04/04/1971 )


 
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