61 - OS   AGUIAR,   GENTE   DE  ARARITAGUARA

 

              Há dias, estive batendo um papo com o Sr. Valêncio Aguiar e Silva. Caboclo bom. Velho cidadão botucatuense. Residente na Avenida Sant’Anna, alí por perto do Palácio da Saúde. Rodeado por sua enorme família, muito lúcido, aos noventa e um anos de idade, vivo placidamente o seu fim de século. Conta coisas interessantes do Velho Botucatu. Contemporâneo de Turíbio Vaz de Almeida,  é testemunha de uma época que se findou, e a qual pertenceu meu pai Sebastião Pinto Conceição, seu companheiro de Escola.

             Os Aguiar e Silva vieram de Porto Feliz. Gente da velha Araritaguaba, do tempo das Monções. Descendiam de velhos troncos bandeirantes. Salvador Aguiar e Silva e sua esposa dona Zulmira, com os filhos então existentes, chegaram a Botucatu em 1878. Viajaram vários dias, em tropas de cargueiro. E,  foram para a fazenda do Coronel Rodrigo Dias  Ferraz Aranha, marido da benemérita dona Izabel Franco de Arruda. Aqui, o casal Aguiar teve mais filhos, dos quais sobrevivem Valêncio, Maria ( Lilica ) e o caçula Joaquim. Um outro  filho de Salvador, o Antonio Aguiar,faleceu não há muito tempo, aos 84 anos de idade, deixando os seguintes filhos, todos residentes em Botucatu : José, Antonio, Paulo, Benedito, Helena e Maria, esta, viúva de Luiz Francisco . Sua viúva, dona Maria Amaral ( 84 anos ), vive em nossa cidade, em companhia de muitos netos e bisnetos.

             O velho Salvador Aguiar, formou lavouras de café para o Coronel Rodrigo Dias Ferraz  Aranha. Ganhou dinheiro. E tornou-se fazendeiro. Comprou uma parte da Fazenda Limoeiro, em Pardinho. Era vizinho de Antonio de Barros, fazendeiro forte, dono de muitos escravos. Com a abolição, os escravos libertos debandaram. E muitos foram trabalhar com Salvador Aguiar, enquanto o fazendeiro Barros se empobrecia.

            Com o correr do tempo, Salvador Aguiar também empobreceu. E veio terminar seus dias num sitio do Faxinal, onde era pessoa de influência. Para o seu tempo, Salvador Aguiar era um homem de certo preparo. Conversava bem. Lia e escrevia. Fazia as quatro operações. E era dotado de muito senso. Tornou-se um Chefe no seu bairro, grande amigo de Nhô Faé ( Coronel Raphael Augusto de Moura Campos  ). Mas nunca quis disputar eleições. Ao falecer deixou grande descendência.

              O Sr. Valêncio Aguiar e Silva sempre foi lavrador. Casado com dona Benedita Soares Leite, gente dos Moisés ( conhecidos como Musas ) viveu no seu sítio no Rio Pardo. Homem bom, trabalhador,honesto, paulista dos antigos. Do seu casamento com da. Benedita, nasceram os filhos : Maria, casada com José Antunes Filho, cujo pai foi meu padrinho de crisma; Zulmira,casada com José Ferreira de Camargo, residentes em Piraju; Virgínia,casada com Oswaldo Ramanzini, comerciante em Botucatu; Moysés, casado com Olívia Meneses, ambos falecidos; Joaquim,casado com Julieta Dualibi, residentes em São Paulo; Ana casada com Francisco Amancio da Cruz ( o popular Zico ), residentes em Botucatu; Izabel, Telefonista, minha informante, do Centro Telefônico local; Lurdes, viúva de João Tozoni; José, casado com Albina Murback, residentes no Paraná; Salvador, casado com Izaura Amancio, residentes em Botucatu; Antonio e Tereza, residentes em Botucatu.

             Esses filhos se multiplicaram a valer, à velha maneira paulista. E hoje, Valêncio Aguiar e Silva, é um verdadeiro patriarca, com 12 filhos, 58 netos, 48 bisnetos e alguns trinetos se aproximando . . . Os descendentes de Valêncio Aguiar, trabalham  nos mais variados setores de atividades.

             Dos seus netos, tenho lembranças das Professoras Maria Clara Antunes, Olinda e Maria de Lurdes Ramanzini, que foram minhas alunas na Escola Normal de Botucatu. Nireu e Mariza Antunes,  são Contadores, assim como Lourival Ramanzini. Os irmãos Ramanzini – Alexandre, economista, Oswaldo, acadêmico de Direito e Haroldo, universitário – são netos, pelo lado paterno, do velho Alexandre Ramanzini, sapateiro italiano falecido há tempos. O velho Mastro Escarpáro, contemporâneo de Grandino, Chico Greco, Emilio Musetti, Laperuta, Pereira Ignácio, Rafael Madarena e Tortorella, que calçaram os velhos botucatuenses, o velho Ramanzini deixou grande descendência, e muitos dos seus netos e bisnetos residem ainda na terra dos bons ares.

             Falando da abolição da escravatura, Valêncio conta que com a Lei Áurea, houve uma degringolada nas fazendas. Os pretos, desorientados e atordoados com a liberdade, abandonavam tudo, deixando os velhos senhores na mão, como se diz hoje. Mas os pobres libertos, não sabiam aproveitar a liberdade. E acabavam voltando para as fazendas que tinham abandonado. Para trabalharem de graça, mesmo, ou mediante um irrisório salário. E o que salvou a lavoura paulista, foi a imigração dirigida. Uma italianada boa, louca para trabalhar, foi carreada para São Paulo. E o braço livre, fez São Paulo crescer, ao contrário do que aconteceu em outras províncias do Brasil.

( Correio de Botucatu – 29/04/1971 )

 


 
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