83 - SEU  PIRES  DA  FARMÁCIA

  

                Há pouco tempo, tive em mãos o boletim PINHEIROS  TERAPÊUTICO, de agosto de 1953, publicação cientifica, que se edita na Capital. Augusto Esteves, genro do grande Vital Brazil, no artigo “Os Grandes Vultos da Farmácia no Brasil”, focalizou  a personalidade de José Arnaud Paulino Pires. Nesse magnífico trabalho, o articulista traça a biografia e analisa a personalidade daquele que foi o “Seu” Pires da Farmácia em Botucatu.

                Eu conheci bem a Farmácia Pires e o seu conceituado proprietário. A Farmácia Pires, ficava alí onde está o prédio novo do Bradesco. Seu dono era o farmacêutico José Arnaud Paulino Pires, Major da Guarda Nacional ( não gostava que o chamassem pela patente ). Formou-se em 1888, pela tradicional e renomada Escola de Farmácia de Ouro Preto, MG, isto depois de ter abandonado o curso de medicina que fazia na Faculdade Nacional de Medicina, do Rio de Janeiro, por não gostar de anatomia. . .

              Formado ( conta Augusto Esteves ), “o moço farmacêutico,cheio de sonhos e esperanças, ruma para Botucatu, onde chega a 30/06/1890. Botucatu, era na ocasião, a terra prometida, por ser ponta dos trilhos da então Companhia União Sorocabana e Ituana, cidade movimentada,distribuidora de tudo quanto o sertão necessitava. Era uma pequena Capital. Nessa terra,escolhida para o berço de seus filhos, e seu leito para o repouso eterno, inicia a vida profissional, assumindo a responsabilidade da Farmácia de Martinho Morato, recentemente falecido. Posteriormente adquire-a, dando-lhe o nome de Farmácia Pires, local em que trabalhou cerca de quatro décadas, atendendo fregueses e amigos, nos momentos de aflição, e serviu a médicos de nomeada, dentre eles os doutores Miguel Zacharias de Alvarenga, Costa Leite e Vital Brazil”.

                Farmacêuticos daqueles velhos tempos, quando a terrinha iniciava a marcha progressiva para o que é hoje, eram os Srs. José Rossi, Alfredo Pinto Conceição, Cantídio Vianna e Amadorzinho da Ribeira. Em 1898, funcionava a firma Pires & Alfredo Pinto, dissolvida depois, e da qual o meu tio Alfredo Pinto Conceição era um dos sócios. Nesse tempo, o depois Comendador Mario Guástini, que foi jornalista e político na Capital, lavava vidros numa das farmácias locais. O homem progrediu e chegou a ser Vereador em São Paulo e Diretor do JORNAL DO COMÉRCIO, extinto em 1930.

              “Seu” Pires, de estatura mediana,  sempre bem posto, usava cavanhaque, o que realçava a figura, já de natural austera. Era o farmacêutico clássico. Inspirava confiança e respeito. Enérgico e delicado,  atendia com honestidade e probidade sem par, a todos que o procuravam, não distinguindo condições sociais. Tinha muitas amizades, sendo largamente relacionado em todas as camadas do povo. Se fosse político teria muito prestígio. Mas não o seduziam os partidos. Só lhe interessava o trabalho profissional. Entretanto, quando solicitado, assumia encargos.

                “Homem de elevado senso moral, manteve-se reto no proceder. Foi Delegado de Policia em 1901 e 1902. Prestou serviços à Misericórdia Botucatuense, durante muitos anos. Foi um dos fundadores do Clube 24 de Maio e seu primeiro Presidente, dirigindo, também, associações culturais e recreativas. Como um dos fundadores da Sociedade de Assistência aos Morféticos, por longos anos, exerceu os cargos de tesoureiro e administrador.”

              José Arnaud Paulino Pires nasceu aos 12 de agosto de 1864, na fazenda Bom Jardim, município de Valença, Estado do Rio de Janeiro. Era filho do Coronel José Paulino Pires e de dona Felisbina de Avellar Pires, gente do patriciado da velha província fluminense. Na terra natal, consorciou-se com dona Adelaide Paulina da Silva Pires, que foi extremosa companheira e dedicada esposa, falecida em 1944, sete anos após a morte do marido, que faleceu em 01 de outubro de 1937. Ambos estão sepultados em Botucatu.

              O casal José Arnaud e Adelaide Pires, deixou os seguintes filhos: Eliezer, Farmacêutico na Capital, que foi casado com a Professora Maria José de Arruda Campos, há pouco falecida; Clóvis, Farmacêutico, Inspetor de Farmácia, aposentado, casado com a Professora Luiza de Campos Avellar Pires, residentes em Botucatu; Hugo, Professor secundário, aposentado, casado com dona Celina Miranda da Costa, residentes em São Paulo; Armando, Bancário, falecido; João Batista, Bancário, aposentado, residente em Botucatu; Maria Ignácia, Professora aposentada, casada com o Sr. Benedito de Mello Mendes, residentes em Botucatu.

               Netos e bisnetos de “Seu” Pires, numerosos, estão se destacando em vários setores de atividades. Entre eles, tenho lembranças do Advogado Clóvis Pires Filho, Professor Raphael de Campos Avellar Pires, Professores Cidinha Mendes, Sebastião Mendes, Aparecida e Lourdes de Avellar Pires; Professoras Cacilda e Terezinha Pires;  Hugo, Fausto e Norma da Costa Pires; e Nelson de Campos Pires. Este último, Licenciado pela Faculdade de Filosofia da USP, foi bolsista na França e é Psicólogo da Universidade de São Paulo.

                No dia  01 de outubro de 1937, José Arnaud faleceu em Avaré, onde ultimamente residia. Seu corpo foi transportado para Botucatu. Nesse dia, a Câmara Municipal de Botucatu demonstrou seu apreço, a um “Herói Ignorado”, prestando-lhe significativas homenagens. “Seu” Pires,  mereceu-as.

 

( Correio de Botucatu – 18/09/1971 )


 
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