85 - A  TRIBU  DO  LEVY

 

                  Não é da tribu bíblica que eu vou cuidar.Vou focalizar a tribu de Levy de Almeida, família que durante alguns decênios brilhou em Botucatu, pela inteligência e atuação de seus membros.

               João Thomaz de Almeida, o velho, nasceu em Tatuí em 11/01/1853. Muito moço,  chegou à Botucatu. E foi o primeiro fotógrafo botucatuense. Aqui criou a filharada, que houve do casamento com Maria Virgínia Thomaz de Almeida.  João Thomaz faleceu em 04/06/1906. Dona Maria Virgínia, com 89 anos de idade, faleceu aos 09/12/1942. Ambos estão sepultados em Botucatu.

               Gamaliel, Levy, João Thomaz Filho, Achilles, Genesio, Eurico, Pedro, Heitor, Lídia, Ester, Maria e Iracema, foram os filhos do casal João Thomaz e Virginia. Os filhos homens, são todos falecidos, e nenhum de seus descendentes residem em Botucatu. Esta tribu do Levy Thomaz de Almeida, era composta por homens de grande inteligência, combativos. Muitos deles se destacaram no jornalismo, no magistério superior, nas letras, tanto na capital como do interior. Falar nos Irmãos Almeida, é falar no “Correio de Botucatu”, do qual aliás foram proprietários e diretores de 1902 a 1930, mais ou menos.

                 Alberto Rocha Lima, brilhante beletrista patrício, falando dos Irmãos Almeida, numa conferência realizada no Centro Cultural de Botucatu, se expressou,  como se vê nos excertos que abaixo transcrevemos:

                “Com que prazer voltaria ao passado! Aqueles dias felizes do “Correio de Botucatu”, em que, ao redor de seus prelos, eu recordaria dos Irmãos Almeida, o calor de sua amizade e entusiasmo. Éramos então, um grupo de moços. O  Gamaliel de Almeida, era o mais velho. Cuja pena fulgurante e viva, emprestava ao jornal um cunho de seriedade, não raro pontilhada de fino humorismo. Era, por isso, o J.Velho, cujos magníficos artigos, dariam  para dezenas de livros. Os outros eram o Eurico Levy e o João Thomaz Filho, tão cheios de encanto e alegria. Dentro da redação imperava  a alegria e a vida, na sua exuberância”.

               “Mais tarde chegou o Levy, que parecia a alegria e a saúde personificadas. Dentro das oficinas parecia haver, por vezes, clarões fulgurantes de sol! Elas se  incendiavam de beleza e de arte. Aquilo não era mais um jornal, era um centro de ensinamentos e de arte, iluminado pela alegria de viver e de sentir!”.

               Levy  sempre se impôs no meio botucatuense. Nas festas do  24 de Maio ou do Gabinete Recreativo, as danças e os saraus perdiam a graça, enquanto não aparecia,  lá dentro, a figura expressiva, cintilante e imcomparavelmente comunicativa do Levy.  NOTA DOS REVISORES:  “NO TOPO DA ESCADA, DEPOIS DE LONGA EXPECTAÇÃO, OUVIA-SE UM GRITO EM TODAS AS GARGANTAS, COMO SE FOSSE O PRÓPRIO SOL QUE IRROMPESSE DENTRO DAQUELE TÚNEL DE QUE NOS FALA PLATÃO, EM “A REPÚBLICA”: LEVY!”.  Todos o rodeavam. Ele falava com todos, irradiando de entusiasmo. As almas se incendiavam. A orquestra, sob o encanto da flauta dos Vicente Rocha ou  Moscogliato, rompia logo em catadupa de harmonia. E o baile somente terminava, com  saudade, nas lindas madrugadas de Botucatu”.

               “Era assim o Levy, daquele bom tempo! E como ele escrevia bem! Como eram primorosas e cheias de verve e aticismo as notas e artigos! Como era imenso o seu coração e formoso o seu espírito! Tão grandes, que, em realidade,  não poderiam caber neste mundo, tão cheio de misérias, de egoísmo e de ingratidão! E foi por isso, talvez, que a morte o levou, em plena mocidade”.  NOTA DOS REVISORES: “E É POR ISSO, TAMBÉM, QUE TODOS HOJE CHORAMOS O SEU PRMATURO DESAPARECIMENTO, COM AS MESMAS LÁGRIMAS QUE FORAM DERRAMADAS NA OCASIÃO DE SUA MORTE - POR QUE A AMIZADE É UMA COISA ETERNA. OS IMPÉRIOS SE DESMORONAM, EM QUE PESE À AMBIÇÃO DOS HOMENS; SÃO COISAS MATERIAIS, PERECÍVEIS; MAS AS BELEZAS E ESPLENDORES DO ESPÍRITO NÃO MORREM NUNCA; E EM MEIO DOS ESCOMBROS DA MATÉRIA, NINGUÉM AINDA PODE MATAR O BEM, A AMIZADE, O AMIGO, A ARTE E A PRÓPRIA GLÓRIA”.

                Faleceu, vitima da pandemia gripal de 1918,  ”gripe espanhola”,  o tribuno do povo!

               E o irmão, o Achilles de Almeida? Jornalista, Poeta, Professor. Advogado. Que perdulário de talento! Era um dos esbanjadores de poesia e inteligência,  nas reuniões do “Correio de Botucatu”, do “Pirilampo” do Nello Pedretti, da esfuziante “A Verruma”. Achilles, muito moço, faleceu em Sorocaba, onde exercia, brilhantemente, o magistério e a advocacia. Matou-o o coração,  seu grande coração de moço e de poeta.

               E os outros irmãos, o Genésio e o Pedro que assinavam Almeida Moura?  Genésio, Advogado, Professor Universitário, foi Secretário de Estado do Governo de São Paulo. Pedro, Advogado, e Professor de Alemão na Capital, ambos falecidos. Eram muito conceituados nos meios universitários. Genésio e Pedro receberam do escritor Emil Ludwig, alemão, o seguinte elogio: “ Falavam o alemão melhor do que os filhos da velha Germânia, porque era a língua de Goethe, pura e cristalina sem as falhas dialetais que hoje mareiam a língua do autor de “FAUSTO”.

               João Thomaz de Almeida Filho, o consagrado historiador botucatuense, como Levy, têm seu nome em  ruas de Botucatu. Eurico e Heitor, eram gráficos, exímios profissionais, inteligentes e operosos. Eurico, amador teatral, poeta repentista, escrevia regularmente e era notável humorista.

                 Aí estão os homens da tribu de Levy de Almeida. Faleceram mas não morreram na lembrança dos botucatuenses. Seus nomes estão ligados à Botucatu, pela família, pela cultura  e pelo  amor que devotaram à linda cidadede das serranias,  no dizer  de Alberto da Rocha Lima, o beletrista..

 

     ( Correio de Botucatu – 06/10/1971 )


 
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