91 - EMÍLIO  GARCIA Y GARCIA

 

             Pela vez primeira, nestes escritos, vou focalizar a colônia espanhola do Velho Botucatu. Não eram mui numerosos os espanhóis, mas eram atuantes. No começo do século, já aqui estavam os Soler, Ferram, Deáro, Blasco, Fernandes, Amat, Delgado, Salgueiro, Garcia, Lopes, Gonçalves e outros. Um deles, entretanto, se destacava pelos seus empreendimentos e atuação à frente dos patrícios. Era ele Emílio Garcia ou Emílio Garcia y Garcia, um espanhol pequenino, dinâmico e maneiroso, fugindo aos moldes comuns com que representam os castelhanos. Sua vida, no Brasil, bem pode ser avaliada pelo documento abaixo transcrito. É uma moção de pêsames, pelo falecimento de dona Ana de Toledo Garcia, esposa de Emílio Garcia , cuja vida correu paralela a do esposo. Aprovada unanimemente pela Câmara Municipal de Botucatu, está assim redigido o requerimento de autoria do edil Dr. Antonio Gabriel Marão: - “Requeremos,  após ouvido o Colendo Plenário, seja considerado em Ata dos nossos trabalhos, um voto de profundo pesar pelo falecimento de d. Ana de Toledo Garcia, ocorrido dia 26 último, em nossa cidade ( progenitora de nosso combativo e estimado colega, Vereador Progresso Garcia.)

            D. Ana de Toledo Garcia, a virtuosa senhora que acaba de desaparecer aos 94 anos de idade, era viúva do benquisto e saudoso Emílio Garcia y Garcia. Eram seus pais Antonio Toledo e Ana Joaquina Serrano, naturais da Espanha. Deixou cinco filhos: Eliseu, Josefa, Progresso, Palmira e Emílio, além de outros falecidos. Veio para o Brasil, como imigrante, há 65 anos passados. Veio com o marido e dois filhos. E escolheram para morar em Botucatu, aliás sempre moraram em Botucatu. Só em Botucatu. Seu marido, o sempre saudoso Emílio, foi um homem . Um homem na verdadeira acepção da palavra. De caráter. De atitudes firmes e corajosas. Montou ele, em 1907, a PRIMEIRA ESCOLA PARTICULAR  de Botucatu. Lecionava em espanhol.

            Emílio e Ana, durante o dia, trabalhavam na lavoura. À Noite, ele vinha a cavalo, a fim de lecionar. Terminado o prazo para trabalharem no campo, mudaram-se para Botucatu ( trabalhavam numa fazenda nas vizinhanças, então de propriedade de Vitóca Villas Bôas. Em Botucatu, montaram um moinho de fubá, próximo à fazenda Lajeado e que funcionou até 1912. Nesse mesmo ano montou um cinema. Ali no inicio da Avenida Sant’Anna. Funcionou durante um ano. O cinema, estava no começo, era como um circo, coberto de pano. Havia intervalo entre as partes, para molhar constantemente, o pano onde se projetava o filme.

            Em 1910 montaram um Hotel e cinco anos depois o vendiam à família de Franchino Aloisi. Durante 13 anos, de 1913 a 1926, foi Agente Consular da Espanha, para a toda vasta região da Sorocabana. Em 1926, Emílio, Ana e os filhos Progresso, Palmira e Emilinho, estiveram na Espanha. Foram para ficar. Todavia, não mais se acostumaram na bela e histórica Espanha. O Brasil os chamava. E retornaram a Botucatu.

           Emílio foi por muito tempo, viajante da SINGER. Foi comerciante e industrial ( fábrica de calçados ), enfim, foi um lutador. E sempre naquela linha coerente de conduta. De atitudes claras e definidas. Faleceu em 1937. No dia de São Pedro. Apesar de falecido há tanto tempo, ainda é lembrado e citado pelo muito que fez por Botucatu. Em verdade, participou leal e ativamente, de todas as boas iniciativas botucatuenses. Emílio nasceu na Espanha, aos 15 de dezembro de 1875. Seus pais Alonso Garcia Martins e Josefa Garcia, também eram espanhóis. A pranteada dona Ana deixou além de outros parentes, cinco filhos, 19 netos e 35 bisnetos.

           Requeremos  outrossim,  que ao Sr. Prefeito Municipal se oficie a fim de que S.Excia.  dê o nome de Emílio Garcia a uma das ruas de nossa cidade, pelo muito que essa família fez e vem fazendo por Botucatu”.

          Dos filhos de Emílio Garcia – Eliseu, Progresso, Emílio, Josefa e Palmira Garcia só reside em Botucatu o Sr. Progresso Garcia. É político atuante. Vereador em muitas legislaturas, desde o reinicio das atividades eleitorais após o “Estado Novo”, tem, como se diz, cadeira cativa na edilidade local. Eleito Vice-Prefeito, ocupou a Chefia do Executivo botucatuense por diversas vezes. Goza de prestígio popular. Sua esposa, Professora Carmen Barbosa Garcia, do magistério estadual, por largos anos, foi Diretora do Curso Primário do Instituto de Educação de Botucatu.

 

( Correio de Botucatu-06/11/1971 )


 
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