93 - UM  NAUFRÁGIO   E   UM   SONHO   SALVADOR

 

              Paschoal Jaqueta, filho de Felício Jaqueta e Antonia Valente, nasceu a 30 de março de 1869 em Sessano, Provincia de Campo Basso, na Itália. Seu nome foi-lhe dado por ter sido batizado num domingo de Páscoa. Casou-se em Nápoles, com Carolina Lalli. Desse casamento tiveram os filhos Felício e João ( italianos ), Angelina, Jordina e Laurindo Ezidoro, os três últimos brasileiros.

            Em 1895, atraído pelas facilidades que a América proporcionava, deixou sua terra natal e rumou para o Brasil. Deixou seus parentes e seus bens. Deixou a esposa com os filhos João e Felício, e com muito peito enfrentou o desconhecido. A família viria depois, como faziam os corajosos imigrantes peninsulares.

              Inicialmente foi parar em Poços de Caldas (MG), onde residiam alguns parentes e PAISANOS. Estabelecido, mandou buscar a família. A esposa e os dois filhos,  tomaram um vapor para a longa viagem que seria assinalada por um triste episódio. Houve um naufrágio do “Bastimento”, que foi assim descrito por um dos familiares do velho Paschoal:

              “ A viagem decorria normalmente. Mas, dona Carolina ( que trazia os filhos Felício e João, e mais uma sobrinha ), tinha tido um sonho esquisito, onde havia um naufrágio. Estava apreensiva. Sonhara com o pai falecido há muito tempo, e este lhe recomendara que não largasse um instante sequer as crianças, pois algo de grave iria acontecer. Às tantas, quando o navio ia atravessar o Estreito de Gibraltar um choque tremendo foi sentido. A sereia de bordo começou a tocar alarme. O barco batendo num penedo, espatifara-se e fazia água por todos os lados. Gritos, correrias, pânico, terror, constituíam um quadro impressionante. Passageiros e tripulantes foram arremessados ao mar e procuravam desesperadamente agarrar-se às tabuas, pedaços de madeiras e botes que flutuavam. Dona Carolina e os dois filhos que não se desgarraram, conseguiram agarrar-se à umas tábuas e ficaram boiando à espera de um possível salvamento. A sobrinha, desobedecendo às ordens da tia corria desabaladamente pelo convés, e com muitas dezenas de náufragos foi tragada pelas ondas. A maioria dos passageiros desapareceu.

              Carolina Jaqueta e os dois filhos e mais uns poucos passageiros, após dez horas de sofrimento e agonia, foram recolhidos por barcos salva-vidas. E foram levados para uma aldeia africana, onde os negros antropófagos constituíam um iminente perigo para os náufragos, principalmente as crianças. Queriam à toda força comprar e devorar as mesmas. Que agonia! Durante dois dias e uma noite durou esta odisséia, até que houvesse o devido salvamento. Depois, outros barcos conduziram “os salvos” para seus destinos.

             Em Poços de Caldas, muito alegre, Paschoal Jaqueta preparava-se para ir à Santos, quando recebeu a triste noticia do naufrágio, onde se julgava que todos de bordo tinham perecido.O homem, ante o impacto tremendo, ficou arrasado, desesperado. Chorou e nem sabia o que fazer para o futuro. Passado uns poucos dias, veio uma notícia de que alguns náufragos iriam chegar a Santos. Paschoal Jaqueta esperançoso,  mas com uma dúvida atroz no coração, não via a hora do desembarque dos passageiros do barco que se aproximava. E quando em meio dos que desembarcavam, reconheceu Carolina e os filhos, chorou de emoção, de felicidade. Chegavam sem bagagem nenhuma. Tudo se  perdera, menos a vida e a coragem e esperança de melhores dias”.

            De Poços de Caldas o casal veio para Botucatu. Numa extrema pobreza. Aqui chegando, os  Jaqueta se hospedaram com conhecidos. Gente que estava no Brasil há alguns anos e morava nas proximidades da estação recém-inaugurada, ali onde está a Vila Jaú e o Albergue Noturno, onde havia várias olarias. O primeiro serviço de Paschoal foi trabalhar na limpeza do prédio do Grupo escolar “Dr. Cardoso de Almeida”, que ia ser inaugurado naquele 1895. Depois de trabalhar algum tempo na olaria de Dinucci & Antonelli, o corajoso imigrante passou a trabalhar no curtume de um tal Ramacciotti, que acabou sendo vendido à Virginio Lunardi & Irmão, onde se aposentou após 46 anos de trabalho. Viúvo de dona Carolina, falecida nesta cidade em 31 de julho de 1948,  Paschoal Jaqueta faleceu no dia 12 de dezembro de 1952. Deixou os filhos e netos bem encaminhados na vida, como foi o caso de Milton Jaqueta, falecido há pouco e que era um próspero homem de empresa.

           Felicio Jaqueta, o filho mais velho, casado com Emilia Leão, aposentado, é pai da Professora Zilda Carolina, casada com Natalino Foglia, de que houve os filhos Marilene, Maria Maura e Márcia Cristina. João Jaqueta, futebolista da velha guarda, o homem que tinha um canhão nos pés, já é falecido. Casado com Maria Conceição Casal,  deixou os filhos Joamar e José Carlos. Angelina Jaqueta faleceu nesta cidade em 5 de maio de 1919, e a irmã Jordina, é casada com Antonio Burzaca de quem houve a filha Marineuza.

            Laurindo Ezidoro Jaqueta, botucatuense, é um dos valores  positivos de Botucatu. Foi comerciante. Presentemente é Oficial do Registro Civil da Vila dos Lavradores, exercendo cumulativamente o cargo de Oficial do Registro Civil de Pardinho. Esportista. Rotariano dos bons, líder do laicato católico. Político prestigioso. Foi Vereador por três legislaturas consecutivas. Por três vezes foi Presidente da Câmara Municipal local. Também foi Vice-Presidente, com exercício da Presidência no segundo semestre de 1968. Foi agraciado com a medalha e comenda Vital Brazil. Sempre residiu na Vila dos Lavradores, onde exerce todas suas atividades. Casado com uma filha do falecido Amadeo Santi ( político nos tempos do PRP, quando foi sub-Prefeito e autoridade policial ), o casal Laurindo e  Anita Santi Jaqueta tem os seguintes filhos: Heddy Lauro, sub-Contador do Banco do Estado em Bauru, casado com Maria de Lourdes Gomes Jaqueta; José Maria, quintoanista de Engenharia e Maria Salete, acadêmica de Engenharia. Como Vereador foi secretário na gestão da Presidência do Dr. Sebastião de Almeida Pinto, e de quem diz ter sido aluno em matéria de legislação, conforme amistosamente me afirmou. E isto muito me honra.

 

( Correio de Botucatu – 17/11/1971 )


 
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